quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Contos de Fadas... ou de bruxas

Sempre pensei que fadas e bruxas fossem inimigas, mas acho que essa rivalidade é recente; suponho que antigamente elas foram irmãs, algo como na época que inventaram os “Contos de Fadas”, mas que podiam ser facilmente “Contos de Bruxas”. É... Estou chocada! Nunca fui muito a favor dos contos de fadas, pois achava que eles tinham muita coisa escrita nas entrelinhas, e principalmente coisas que remetiam à idade média, mas minhas justificativas sobre eles não conterem o melhor conteúdo para as crianças sempre eram quebradas com o final realmente PERFEITO (e nada real) que as histórias tomavam, mas acabei de ter uma surpresa (ok, eu já imaginava isso). Fui procurar a versão original destes, e olhe o que encontrei... Huuum, vou começar pela Chapeuzinho Vermelho.
Na história que você deve ter escutado desde criança há uma garotinha que usa um capuz vermelho, vai visitar a vovó doente, mas o lobo chega antes come a vovó, mas a netinha não é comida, por intervenção de um caçador, que também salva a vovó já devorada (tipo, o lobo a engoliu inteira! Ele não mastiga! Ele era banguelo pô!). Mas na versão original, escrita por Charles Perrault, a chapeuzinho fala com o lobo indo pra casa da vovó, diz a ele onde é a casa dela, ele vai lá come ela, se veste com as roupas dela, espera a “neta” e a come! Não há caçador! Há apenas um bonapetit para o Lobo! A moral da história é que não deve-se falar com estranhos, tornando a história bem mais consistente.
Vamos para o próximo... A pequena Sereia, de Hans Christian Andersen.

Muita gente nem conhece o conto em si, apenas a historinha da Disney em que Ariel mesmo depois de alguns probleminhas (sim, eles são pequenos em relação aos da história original) ela casa-se com o príncipe, já na forma humana. Pois é, mas na história original ela depois de finalmente poder atingir a superfície, conhecer o príncipe, e tudo mais, ela perde a voz em troca de pernas (trato com uma bruxa), vai atrás de seu amado, mas como não FALA, o príncipe não quer casar com ela e casa com a princesa do reino vizinho. A pobre sereia (ex-sereia) fica muito triste, de maneira que suas irmãs dão seus cabelos à bruxa em troca de uma faca, com a qual a Pequena Sereia mataria o príncipe e assim voltaria a ser uma sereia, mas em vez de fazer isso, a nossa protagonista se mata com a faca e vira espuma! Ela NÃO casa e vive feliz para sempre! Ela não vira humana! Ela vira espuma do mar!

Em Branca de Neve, temos que a história divulgada é um pouco mais fiel à original, escrita pelos Irmãos Grimm, com a exceção de dois (não tão pequenos) detalhes: a bruxa má não queria o coração, mas sim os pulmões e o fígado da princesinha, e eles seriam servidos no jantar; o segundo detalhe é que não há nada de beijo mágico entre o príncipe e Branca: ele simplesmente encontra-a na floresta, e diz aos anões que irá velar seu corpo, e leva-a em seu cavalo para o palácio (o que ele ia fazer com ela fica de acordo com a sua imaginação), mas por sorte, ela “desentala” o pedaço da maçã com um sopapo dado pelo cavalo, e volta a respirar (não se sabe se a maçã estava realmente envenenada, ou se a princesinha estava entalada), então ela levanta a tampa do caixão, o príncipe a pede em casamento e na festa, como punição a rainha má é obrigada a dançar até a morte com sapatos de pedra que queimam em brasa. Não é TÃO feliz assim, nem TÃO bondoso para uma princesa da Disney, acho que por isso cortaram essas partes.

Outro conto dos Irmãos Grimm é A Bela Adormecida, e digamos que esse foi sim bem alterado... Na versão conhecida adormece quando fura o dedo com uma agulha, e meio que para no tempo, e depois de 100 anos um príncipe beija-a livrando-a do feitiço; digamos que isso é MUITO leve em comparação com o original, em que a princesa na verdade é vítima de uma maldição, adormece, e o rei quando a encontra realmente se encanta com sua beleza, e... estupra-a! Nada de beijo! Ela acaba engravidando, e o bebê acaba sugando o sangue da mãe anulando a maldição e ela acorda e dá a luz a gêmeos. Final feliz? AH! Tenha a santa paciência!

Os irmãos Grimm novamente vêm com uma historinha para ser destruída, e a da vez é João e Maria. Na versão original os pais das crianças abandonam-nas pensando em cortar gastos, um ato de pura crueldade, e elas não encontram uma bruxa na casa de doces e sim um demônio, que é enganado pelas crianças. Contudo, ele não cai na cilada e está prestes a colocá-los na guilhotina. As crianças fingem não saberem como entrar no instrumento e pedem para o demônio mostrar como se faz. Nesse momento, elas cortam seu pescoço e fogem. Que criancinhas meigas e inocentes!

O conhecido conto Cinderela também é de autoria dos Irmãos Grimm; esse não foi TÃO distorcido, mastambém teve detalhes alterados. No dia do baile (na verdade do TERCEIRO baile, pois Cinderela não foi aos dois primeiros), Cinderela perdeu a hora, de maneira que a sua carruagem voltou a ser abóbora e ela voltou pra casa a pé vestindo trapos, pois já passava da maia-noite(se tivesse horário de verão naquela época...). O sapatinho era de ouro, e não de prata, mas isso não influencia em muita coisa. Bem, é meio óbvio que um príncipe não iria atrás de sua “amada”, ou seja, ele mandou um de seus empregados para experimentar os sapatinhos em todas as damas do reino, e as irmãs de Cinderela cortaram os dedo e os tornozelos para que o sapato coubesse, e o empregado foi inicialmente enganado pela irmã mais velha, mas no meio do caminho, enquanto levava-a para o palácio um passarinho lhe avisou e ele viu o sangue no sapato, retornando. O mesmo ocorreu com a segunda irmã, até que mesmo com a resistência da madrasta Cinderela provou o sapatinho e descobriram quem era a “princesa”. Final feliz! Finalmente! Ou não... Pois as irmãs de Cinderela ficaram cegas e tornaram-se mendigas, pedindo esmola pelas ruas (ah, a vingança é doce! Isso é que é final feliz!).
 
Em Os três Porquinhos não houve TANTAS distorções, mas na verdade o lobo não perdeu tanto tempo assoprando casas, de maneira que assoprou apenas uma e comeu os dois porquinhos mais novos, restando apenas o terceiro, que é realmente mais esperto, e constrói uma casa de tijolos. Depois de tentativas de sopro e de mentiras para atrair o porco para fora de casa, o lobo resolve escalar a chaminé, mas o porquinho é mais esperto de maneira que o lobo quando desce, cai num caldeirão fervendo e juntamente com os outros dois porquinhos (digeridos ou não) vira refeição do terceiro. Que delícia hein?!

Não preciso concluir isso. São óbvias as distorções feitas, principalmente pela Disney, mas em geral pela sociedade! São contos de bruxa ou não? Bem, eu não contaria isso aos meus filhos. Obrigada por não terem estragado a minha infância, mas acho que os Irmãos Grimm estão se revirando no túmulo.

Um comentário: